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27/01/2008

O Grande Teatro da Vida



Em verdade, não somos nós mesmos em pelo menos 99% do tempo. Passamos quase todo o tempo interpretando personagens.

No ambiente de trabalho, por exemplo, assim que o sujeito atravessa a porta, começa a representar seu papel de funcionário, de acordo com o cargo que ocupa. E, assim, gerentes representam papéis de gerentes ou de chefes; secretárias representam papéis de secretárias; assistentes representam papéis de assistentes, tal como ocorre com cada um dos diversos integrantes do quadro funcional de uma empresa: para cada cargo, um papel. E todos esses papéis possuem várias matizes. Um gerente pode ser bravo ou compreensivo, simpático ou arrogante, tolerante ou repressor. Uma secretária pode ser sóbria ou comunicativa, descontraída ou recatada, intelectualmente pedante ou humilde.

Em casa, as pessoas também representam seus papéis. Marido, esposa, pai, mãe, filho, filha são os papéis mais comumente representados no cenário doméstico. Também neste caso existem várias matizes para os papéis desempenhados.

Nas instituições de ensino, nos templos religiosos, no meio político, na polícia, na justiça, em qualquer segmento social, veremos indivíduos representando seus papéis: mestres, guias espirituais, defensores da nação, homens da justiça, defensores públicos, etc.

Enfim, no cenário da vida, todos estamos representando os nossos papéis. Raramente conseguimos interpretar a nossa própria verdade. Não conseguimos ser o que realmente somos no desempenho de nossas atividades. Insistimos em assumir papéis, representar papéis, e acabamos por nos identificar com os personagens criados, que várias vezes são múltiplos.

Quando nos identificamos com um papel, queremos defender o personagem, ou seja, o conceito que construímos de “pai ideal”, “chefe ideal”, “mãe ideal”, “filho ideal”, etc. Tornamo-nos apegados a esse papel, que consideramos perfeito e que deve ser adorado por todos. Afinal, nós o adoramos, nós nos auto- adoramos, adoramos a nossa criação.

Fazemos o mesmo em relação aos papéis dos outros. Definimos o papel perfeito para um filho, uma esposa, um chefe, e, quando esses personagens fogem do script imaginado como ideal, ficamos irados, magoados. Reagimos, achando-nos no direito de nos vingar e sair do script também.

A criação do ideal é uma maneira de fugir do presente, é o medo da realidade. Criamos estes papéis idealizados para podermos viver escondidos da realidade. Se pudéssemos ver como realmente somos, provavelmente, a vida não seria possível para a maioria de nós.

Nesse teatro, a espontaneidade praticamente desaparece. Cercados e assombrados por nossos medos, nossas experiências, nosso passado, não sobra espaço para ela. Não agimos em função das situações apresentadas, mas de acordo com o passado.

Baseados em nossas experiências, em nossas memórias de situações que foram distorcidas pela mente, pelos egos, definimos conceito e preconceitos. Definimos em nossa mente, por exemplo, o conceito de como deve ser o gerente ideal ou o gerente que gostaríamos de ser, ou da figura dos pais ideais ou dos pais que gostaríamos de ser. E então, passamos a representá-los, de acordo com o conceito criado.

Os pais, os professores, a sociedade, a televisão, certamente ajudam, e muito, na formação de nossos personagens. Assim, criamos, ou criam para nós, roteiros a ser encenados: uma mãe tem que ser assim, um pai tem que ser assado; é preciso casar e ter filhos, é preciso cuidar dos filhos de tal maneira; patrão deve ser assim, empregado deve ser assado; é preciso trabalhar, estudar... São milhares de “tem que”, “deve ser” e “é preciso”.

Devemos eliminar todos os "tem que" de nossa mente, acabar com o condicionamento imposto pelos pais, pelos professores, pela televisão, pela religião, pela sociedade.

Infelizmente, somos assim. Reprimimos o outro porque somos reprimidos, porque acreditamos em padrões pré-estabelecidos, em idéias erradas. E, ao vivermos essa vida de repressão, de representação, ao vivermos fazendo tipos, vamos deixando de lado nossa felicidade e nós mesmos.

Em tudo isso, o pior papel é o papel de si mesmo. Essa representação é como a daquele ator que exagera em sua dramatização.

Toda essa representação acontece naturalmente e de forma muito inconsciente. Aqueles que conseguem perceber este processo de forma consciente, geralmente são pessoas que não têm amor nem compaixão. Acabam por fazer esse teatro de forma intencional, conduzindo, controlando e manipulando terceiros. Só que essas pessoas podem se esquecer de que, assim como elas, outras pessoas também podem ter consciência de sua representação.

No palco da vida, quando somos nós mesmos, causamos estranheza aos olhares alheios, pois todos esperam que representemos o nosso papel. E, no caso de insistirmos em expor a nossa verdade, corremos o risco de ser retirados da cena, do palco, da peça ou até mesmo do teatro, dependendo dos personagens com os quais estamos contracenando.

No teatro da vida, agimos como crianças brincando de casinha. Choramos, esbravejamos, quando os outros não agem como achamos que deveriam agir em seus papéis. As crianças que brincam de casinha, pelo menos, combinam antes o que cada uma delas vai fazer. Já em nosso caso, montamos tudo em silêncio no imaginário e queremos que todos adivinhem.

Os motores que dão a partida e movimentam esses papéis são, como sempre, o desejo, a auto-imagem, a auto-importância, o amor próprio e o apego.

Precisamos entrar em contato com o nosso verdadeiro Ser e perceber que somos algo mais. Só assim poderemos parar de interpretar aquilo que não somos e ser nós mesmos o tempo todo.

Uma escritora seguidora de Jung escreveu:

Então você fica sabendo que nunca poderá ser outra coisa senão você mesmo, que nunca poderá perder-se e que nunca se alienará de si. Isto é assim porque você sabe que o eu é indestrutível, que é sempre um e o mesmo, que não pode ser dissolvido nem trocado por outra coisa. O eu lhe permite permanecer o mesmo em todas as condições de sua vida.



Paz Profunda,

Fabio Ferreira Balota

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